Umas das reais provas a essa minha existência são os motoqueiros. É algo inexplicável o tremor que eu sinto no trânsito só de ouvir os barulhos dos escapes. A postura deles, o jeito de falar, quando passam mostrando o dedo, tudo criava um sabor delicioso quando via algum prostado nas pistas. Um sentimento horroroso, eu sei! Mas daê, né? Vivendo e vivenciando. Estava eu, essa semana, fazendo o caminho da roça, quando um deles passou pela minha esquerda, sendo que eu estava na última faixa, enquanto outro passava pela direita. Ao mesmo tempo. Aos gritos. Ambos. Cheios de razão. E derrepente passam mais e mais, se multiplicaram. E eu ilhado sem saber pra qual lado ir diante aquele ataque sob duas rodas. Ódio incomensurável. Fiquei imaginando alguém os atropelando. Uma jamanta fazendo um lindo strike, cena digna de palma de ouro em Cannes. Daê que 8 horas após, estou eu voltando no mesmo caminho da roça, quando a minha frente, do nada, me cai um motoboy. Conseguí ouvir todos os seus ossinhos quebrando. A perna entortando para o lado. Gritos, gritos, muitos gritos. Parei e ajudei. Choquei. Choquei muito, choquei horrores! Não, ele não morreu. E acho que nem vai, só vai ficar de cama um bom tempo, creio eu.
E vai eu hoje pra roça, cantando e fervendo com Offerina, tipos chapeuzinho, quando um deles chuta o meu retrovisor, cortando a minha vibe matinal. Ódio. Muito ódio. Já comecei imaginando eu descendo, derrubando ele da moto, arrancando com muita força seu capacete e batendo com mais força ainda em sua cabeça, com o seu capacete! Imaginei sangue e dentes aos ares. Queria sangue, muito sangue. Mas antes que mais sangue aparecesse em minha mente, lembrei do sujeito do outro dia. Na realidade, são todos coitados. Correndo risco de morte, muitas vezes cheios de filhos pra sustentar, tentando ganhar uma merreca de nada, enfrentado essa odisséia que é o nosso trânsito para o béo-léo do nosso patronado. Senti compaixão. É verdade que eles são ignorantes, folgados e grosseiros em sua maioria, mas são pessoas que não tiveram muitas oportunidades, e tentam ao seu modo, sofrer menos nessa vida de meu Deus. Pensado isso, meu ódio aos motoqueiros sumiu. E assim, o sofrimento do motoqueiro acidentado serviu de redenção. Seu sangue foi derramado por todos os motoqueiros da cidade, pelo menos no que tange a minha pessoa. Vão, amados, caminhai entre nossos carros!
E vai eu hoje pra roça, cantando e fervendo com Offerina, tipos chapeuzinho, quando um deles chuta o meu retrovisor, cortando a minha vibe matinal. Ódio. Muito ódio. Já comecei imaginando eu descendo, derrubando ele da moto, arrancando com muita força seu capacete e batendo com mais força ainda em sua cabeça, com o seu capacete! Imaginei sangue e dentes aos ares. Queria sangue, muito sangue. Mas antes que mais sangue aparecesse em minha mente, lembrei do sujeito do outro dia. Na realidade, são todos coitados. Correndo risco de morte, muitas vezes cheios de filhos pra sustentar, tentando ganhar uma merreca de nada, enfrentado essa odisséia que é o nosso trânsito para o béo-léo do nosso patronado. Senti compaixão. É verdade que eles são ignorantes, folgados e grosseiros em sua maioria, mas são pessoas que não tiveram muitas oportunidades, e tentam ao seu modo, sofrer menos nessa vida de meu Deus. Pensado isso, meu ódio aos motoqueiros sumiu. E assim, o sofrimento do motoqueiro acidentado serviu de redenção. Seu sangue foi derramado por todos os motoqueiros da cidade, pelo menos no que tange a minha pessoa. Vão, amados, caminhai entre nossos carros!
Que bom que vc teve essa sensibilidade. Só se colocando no lugar deles para não ter tanta raiva...
ResponderExcluirAcho que são vítimas de um sistema que permite esse tipo de risco laboral, pressionados a correr e a se arriscar. Todo dia há acidentes fatais.
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